segunda-feira, outubro 03, 2005

História Militar

"CPHM - XI Colóquio de História Militar"
- Senhor Presidente da Comissão Portuguesa de História Militar- Senhor Embaixador de França- Senhor representante do Embaixador de Espanha- Senhor Presidente da Comissão Francesa de História Militar- Senhor Vogal do Bureau Directivo da Comissão Internacional de História Militar- Senhor Reitor da Universidade de Lisboa- Senhores Almirante e Generais representantes dos Chefes de Estado Maior dos Ramos das Forças Armadas- (eventual referência a outras personalidades presentes)- Ilustres oradores convidados- Minhas Senhoras e meus Senhores
Como nos afirma Lidell Hart: "A história mostra que é a perda de esperança e não a perda de vidas que decide o resultado de uma guerra." No actual momento em que nos encontramos, de profundo abalo Político-Militar pós 11 de Setembro, é de extrema importância a reflexão que aqui se faz sobre "Portugal e os abalos Político-Militares da Revolução Francesa no Mundo".
A História é uma ferramenta indispensável para, analisados os acontecimentos passados, nos ajudar a encarar o presente e prospectivar o futuro.
A História Militar, como todos sabemos, distingue-se da história Geral pelo seu objecto de estudo que é a Guerra (actividade específica) e tem como sujeitos passivos - todos a quem afecta - e que no fundo, pensamos, é toda a humanidade.
O estudo sobre a história da guerra permite ajudar a decisão, robustecer a vontade colectiva e a formação de mentalidades, no fundo, uma maior consciência da Nação. Ernest Renan, em 1882, na Sorbonne afirmou: "O que constitui uma Nação não é o facto de se falar a mesma língua ou pertencer ao mesmo grupo étnico, mas sim, ter levado a cabo em comum grandes feitos no passado e o desejo de os realizar também no futuro".
Todos os grandes líderes mundiais que a história imortalizou foram atentos estudiosos da história militar. Napoleão Bonaparte afirmava - "a táctica, a ciência do artilheiro, podem aprender-se nos regulamentos. Mas os jogos mais elevados da guerra, só se aprendem com a experiência e o estudo da história - Lede as 88 campanhas dos grandes capitães da História, meditai e modificai-vos sobre elas". O grande General Francês Foch dizia por seu lado - "A coragem do chefe baseia-se no que sabe, a história ajuda a distinguir o essencial. Pensar pela história eis o que é." Perguntado sobre se ajudava num problema concreto respondeu: "Evidentemente que não: mas dá-me confiança!". De facto, a história nada justifica nem resolve, mas sem o seu conhecimento encaramos o futuro com pouca confiança.
Para Portugal, a Guerra Peninsular foi dos períodos mais marcantes porque nos mais de 8 séculos desta antiga nação europeia, foi nesta época que se assistiu, por pouco tempo felizmente, ao arrear da bandeira nacional em Lisboa e ao hastear de uma bandeira estrangeira, o que nem durante o reinado dos Filipes de Espanha havia sucedido.
Portugal, recordamos, foi dos primeiros países a demonstrar a sua determinação contra os avanços da França quando, no ano de 1793, não hesitou em mandar um corpo expedicionário de 5.000 homens para a fronteira espanhola dos Pirinéus na chamada guerra do Rossilhão. Mais tarde havia ainda de mandar a esquadra do Marquês de Niza com o propósito de se juntar à armada britânica de Nelson em Malta e tomar parte nas operações navais do Mediterrâneo.
A Guerra Peninsular, que decorreu de 1807 a 1814, foi um período marcado por humilhações e glórias, caracterizado pela entrega, honra e muito sofrimento que atingiu todas as gentes de Norte a Sul do País, onde se destacou, como sempre ao longo da nossa história, o espírito insubmisso do povo lusitano e a bravura do nosso soldado.
A Revolução Francesa foi um marco na marcha da humanidade e se Portugal, numa política ambígua e nem sempre clara, aprendeu com o seu próprio sangue as consequências da indecisão, não foram, infelizmente, suficientes a Campanha do Rossilhão e a Guerra Peninsular para o País aprender a preparar Corpos Expedicionários. De facto, na 1ª Grande Guerra, Portugal foi mais decidido mas, para mal de todos nós, foi extremamente negligente no acompanhamento das Forças que enviou para a Flandres, Angola e Moçambique.
Que a memória dos portugueses tombados em nome do País seja reavivada, por forma a que essa memória e as páginas de história que escreveram nos oriente na preparação das nossas Forças Armadas, para que hoje em operações de Apoio à Paz e no futuro, no cumprimento de possíveis outras missões, levando o nosso estandarte e defendendo os nossos interesses e valores o possam fazer com honra, com saber, com eficácia e fundamentalmente, com o apoio de toda a nação lusitana.
Queria também nesta breve intervenção referir-me à Comissão Portuguesa de História Militar.
Consciente do valor do trabalho que tem vindo a efectivar, é-me grato destacar o esforço desenvolvido na promoção e coordenação da investigação histórico-militar, designadamente pela realização de eventos desta natureza cuja excelência é por todos reconhecida. Saliento igualmente o seu papel dinamizador no desenvolvimento de relações com as Universidades, estimulando a atenção para a história militar em geral e para o seu ensino em particular.
Assegurando também a Comissão a representação internacional na sua área de intervenção, nomeadamente a representação e participação de Portugal na Comissão Internacional de História Militar, onde promovendo o estudo comparado em espirito de entendimento com os países filiados, projecta o passado histórico militar nacional que se reveste de indiscutível importância a nível universal.
Embora ciente do seu êxito, termino formulando votos de sucesso ao Colóquio e aproveito a oportunidade também, para na qualidade de Ministro que tutela a Comissão Portuguesa de História Militar e em nome do Governo incentivar a continuação de tão prestimoso serviço a Portugal.

http://www.mdn.gov.pt/Defesa/Discursos/historico/Rui_Pena/XI_CPHM.htm