Aqui fica o discurso do Sr. Presidente deste projecto.
Avintes, 3 de Setembro de 2005
Salão Nobre do Clube Recreativo Avintense
Discurso de apresentação pública da Audientis – Centro de Documentação e Investigação em História Local pelo Presidente da Direcção da Audientis, José Vaz.
– Senhor Vice – Presidente da Assembleia-Geral da Audientis – Dr. Francisco Flores;
– Senhores Membros do Concelho Fiscal da Audientis, Dr. André Marques e Dr. Jorge Cardoso;
– Senhor Presidente da Assembleia-geral do Clube Recreativo Avintense, Dr. Dionísio Alves Pereira;
– Senhor Representante da Junta de Freguesia de Avintes, Dr. António Cardoso;
– Senhor Prof. Dr. Gonçalves Guimarães, em representação das Personalidades Académicas e Científicas que apoiam este projecto;
– Senhores Representantes das Colectividades Avintenses;
– Digníssima Imprensa Regional;
– Excelentíssimos convidados;
– Caríssimos colegas da Faculdade de Letras da Universidade do Porto;
– Minhas Senhoras e meus Senhores,
Há cerca de 3200 anos, no tempo de Ramsés II – faraó egípcio da XIX dinastia, alguém escreveu num túmulo estas palavras:
“Vivos que andais na terra, que amais a vida e odiais a morte, pronunciai o meu nome para que eu viva...”
O apelo desse desconhecido contém um dos desejos mais profundos de cada homem e de cada sociedade humana para que conservem na memória dos vivos a sua existência passada.
Conservar a memória dos homens é, como disse o sábio da historiografia portuguesa, José Mattoso, “recordar o passado é uma forma de lutar contra a morte.
É essa uma das muitas funções da História e o ofício do historiador é, sobretudo, realizar o diálogo entre esse passado e o nosso presente.
Diálogo imprescindível que, ao nível sítios, das pequenas pátrias, neste tempo de globalização, muito contribui para reforçar o sentido de pertença, para a preservar a memória, para desenvolver a consciência social e para promover a cidadania patrimonial.
Crentes no papel da História, como ciência do homem através dos tempos e dos espaços muitos de nós, nascidos e criados num sítio que respira história em cada pedra do caminho, em cada esquina de rua, em cada lugar, sentimos que é nosso dever preservar para transmitir o que os nossos ancestrais nos legaram.
Para isso, aqui estamos neste acto de nascimento, diante de vós, testemunhas do nosso primeiro som existencial.
Simbolicamente, escolhemos o Clube Recreativo Avintense porque foi aqui, neste venerando espaço, que a sociedade civil avintense ergueu há, 116 anos, a sua primeira experiência de associativismo laico e foi aqui que nasceu muita da história que Avintes conhece e cujo caso mais recente, é o da Festa da Broa, que hoje celebra a sua 18ª edição.
Embora a nossa acção seja para alargar ao Concelho de Gaia e à Região Norte, tomamos como designação deste projecto o topónimo Audientis que, segundo o sábio da historiografia portuguesa, Armando de Almeida Fernandes, na sua obra “Paróquias Suevas e Dioceses Visigóticas”, seria o nome que Avintes tinha na segunda metade do século VII, no reinado do rei visigótico Vamba, que reinou entre os anos 672 e 680.
Na hora do nascimento deste projecto, pensamos ser nossa obrigação evocar a memória dos primeiros historiadores de Avintes, que elegemos como nossos patronos e à sombra dos quais nos acolhemos como se de um manto protector se tratasse. São eles:
Teodósia de Magalhães, religiosa do Mosteiro de S. Bento da Avé Maria, no Porto, que nasceu no lugar do Paço, em Avintes, que viveu entre 1667 e 1712 e escreveu a obra histórica “A “Firme Esperança dos Sebastianistas”.
Inocêncio Osório Lopes Gondim, fundador do Clube Recreativo Avintense, 1º Presidente da Câmara de Vila Nova de Gaia após a proclamação da República, que viveu entre 1863 e 1937 e escreveu a notável obra “Avintes e as suas Antiguidades”.
Avintes e muitas outras terras do concelho de Gaia são produtoras de significativo acervo documental e iconográfico.
Mas a insensibilidade de alguns e o desleixo de outros fazem com que muitos desses traços da vivência passada se percam e assim comprometam a compreensão histórica daqueles que nos hão-de suceder no devir histórico. Que o digam os que estudam as nossas colectividades.
Quando vão à procura dos documentos, na maioria dos casos, deparam-se com um deserto de fontes em colectividades recheadas de anos de vida e de história.
Queremos transformar esta situação.
Ao nível da produção historiográfica, com raras excepções, quase todos os trabalhos têm sido assinados por historiadores por amor a quem devemos, apesar de algumas limitações metodológicas e científicas, o conhecimento do passado das nossas comunidades.
Também, neste aspecto, queremos intervir com o nosso saber e com os nossos conhecimentos científicos.
Para atingir estes objectivos propomo-nos, a médio e a longo prazo:
– Criar um Centro de Documentação onde se guarde e conserve toda a documentação relativa à História de Avintes e seja destinado à investigação da sua História Local visando a elaboração e publicação de uma “Abientae Monumenta Historica”.
– Realizar “Jornadas de História das Pequenas Pátrias” onde se apresentem as novas investigações, descobertas ou interpretações históricas sobre a História Local e a Cidadania Patrimonial, extensivas às freguesias do Concelho de Gaia;
– Criar um Instituto de Ensino Superior (Universidade Sénior ou Permanente) onde as pessoas sem instrução formal universitária, em idade adulta, possam adquirir e/ou aprofundar conhecimentos de carácter universal.
– Organizar Visitas a Sítios com História e promover o turismo histórico.
– Organizar um Curso Livre de História Local nas Escolas EB-2/3.
– Ensinar a fazer Árvores Genealógicas;
– Prestar serviços de investigação de propriedades antigas;
– Prestar aconselhamento toponímico na atribuição dos nomes de ruas e de urbanizações:
– Defender o património histórico;
– Exportar esta experiência para todas as Terras de Gaia.
Pronto, nascemos e queremos proclamar “urbi et orbi” que estamos aqui e somos uma mais-valia científica para os amigos do saber, para as crianças, para as colectividades, para as autarquias e para as demais instituições económicas, sociais, cívicas e religiosas.
Com todos colaboraremos, se isso for do seu interesse, e com base em protocolos de cooperação mútua.
Nesta primeira fase, integram esta cooperativa cultural sem fins lucrativos, homens e mulheres com licentia docendi, outorgada por uma Universidade ou ainda em formação numa Instituição de Ensino Superior.
Com o tempo, integraremos os historiadores por amor, cronistas e personalidades que muito têm contribuído para o conhecimento e a preservação da História Local e Regional.
Abrir-nos-emos, também, a profissionais de outras áreas pois a universalidade do saber a isso o exige.
Assumimo-nos como uma instituição de natureza profissional e, doravante, insistiremos que quem deve tratar da História são aqueles que tem competência para isso, tal como se exige a um médico, a um arquitecto ou a um engenheiro.
Entendemos que chegou a hora de dar à História o que é dos historiadores.
Minhas senhoras e meus senhores, termino como comecei.
Sem a História, sem a memória, um homem, uma comunidade, um povo seriam privados da sua dimensão de humanidade.
Acrescentamos algumas fotos do evento, num post dedicado só à reportagem fotográfica. Desde já agradecemos ao nosso profissional Flávio Miranda.