Caros amigos, sempre desejei que este fosse um espaço de contacto entre todos os que, como eu, são amantes da Clio (fogo, é mesmo rodada...).
Assim trago hoje à vossa atenção, as últimas (mesmo fresquinhas) do meu grande amigo e emigrante, Flávio Miranda.
Segue-se uma transcrição, com um ou dois paragrafos censurados, que é para a malta não se esquecer de como as coisas eram no passado...
Ora aqui vai um briefing sobre o que se tem passado nos últimos dias neste paraíso gelado:
1. A semana passada assisti a uma sessão de seminários, previsto para os alunos do primeiro ano, e que tinha por tema a Autonomia das Ciências. Contou com quatro convidados, que fizeram apresentações muito informais, e cada um deles foi apresentado por um doutorando do primeiro ano. O seminário decorreu durante dois dias e, no final do segundo, dois alunos encerraram os trabalhos fazendo comentários e as respectivas conclusões. Há uma extrema informalidade em tudo que estes tipos fazem e até o mais velhinho professor era chamado pelo nome: Peter. O melhor destes dois dias foram os almoços e jantares e conhecer pessoas (algumas miúdas giras) novas.
2. Também a semana passada conheci o meu supervisor: Dick de Boer. O tipo é especialista em comércio internacional [em particular, o hanseático] mas já deu para perceber que o tipo é especialista em quase tudo. O conhecimento de bibliografia e fontes sobre tudo é absolutamente impressionante. Ele está mesmo a tentar ajudar-me a concretizar o projecto (não percebo por que razão os tipos acham o meu projecto interessante; até eu começo a acreditar nisso...) e já me colocou em contacto com várias pessoas. In the meanwhile, hoje, estive com ele e com um senhor chamado Hanno Brand (que é o coordenador do centro de estudos hanseáticos). Estivemos a fazer um plano para desenvolver o projecto nos próximos meses. Mais importante, um plano sobre o que não devo fazer. Ou seja, os seminários que são feitos para os doutorandos daqui (tenho, em teoria, de assistir a mais dois) são basicamente inúteis para o meu projecto. Logo, ele não quer que eu vá assistir. Por outro lado, e como ele sabe que eu até gosto de Volvos e Saabs, decidiu, conjuntamente com o Hanno, que eu devo assistir a um congresso sobre as transformações do comércio e a abertura para o Atlântico dos países do Báltico e Mar do Norte. Onde é? Ups... Quase que me esquecia de dizer: Uppsala! Entre os dias 12 e 14 de Dezembro (bolas, vai estar frio) vou estar na Suécia, bem agasalhado (uma Sueca V80 vinha mesmo a calhar...).
3. Há dois dias atrás encontrei-me com um senhor chamado Ben Gales. Ele veio ter comigo (e não eu com ele, o que é interessante, embora eu tenha insistido) e pagou-me o cházinho. Este senhor é o director pedagógico do Instituto Posthumus. Ao longo da hora de conversa, onde lhe apresentei o projecto, o que tenho andado a fazer e o quero fazer até Junho, ele foi dando indicações, sugestões e fazendo comentários à minha apresentação de Atenas (que lhe mostrei)."Oh, you're a true economic historian. You know Avner Greif." Sorry, comprei o livro na internet, li algumas coisas e saquei ideias. Mas não percebo nada de economia, ó 'migo. Ele disse que ia divulgar a minha presença e projecto pelos medievalistas na Holanda e que me iria colocar em contacto com o Bruno Blondé de Antuérpia, a pessoa que me poderá ajudar mais. Nos entretantos, porque a vida também é amarga (mas não tanto, como vão perceber), disse para eu escrever um minor paper (até 25 páginas) para apresentar em Amesterdão em Fevereiro. E, mais tarde, se quiser desenvolver, que poderei apresentar um major paper em Budapeste. Vamos lá ver como isto corre. Em cima do Platero sei que sou rápido. Mas com os pés no chão posso não conseguir apanhar o ritmo das coisas.
4. Voltemos à meeting com o Dick de Boer: ele também quer que eu apresente o meu projecto na Netherlands Research School for Medieval Studies (do qual ele é o director). Mesmo sabendo que eu vou embora em Junho (com tantos 'doces' que me dão, será que quero voltar? Será que consigo ficar? O meu colega de gabinete, o checo Marek, já disse que gostava de me aturar mais do que oito meses…), ele perguntou-me se não estaria interessado em participar (like, doing it…) num workshop em Setembro do próximo ano.
5. Bolas, nunca mais começam as minhas aulas de holandês. O Hanno Brand disse para eu comprar um rádio para ouvir holandês e arranjar amigas tulipas para praticar a língua. Creio que são dois bons conselhos. O segundo já pratiquei um pouco. Tenho uma amiga, que mora a duas ruas de mim, que até fez desenhos para eu treinar o meu não holandês. Com o rádio, posso sempre ouvir o relato dos jogos do Groningen comentados pelo Joaquim Rita e as análises ao árbitro feitas pelo Jorge Coroado da terra das tulipas. Entretanto, ele gravou-me um CD com middelnederlandsch, que pode ser útil para quando estiver a lidar com as fontes. E é por aí que eles querem que eu insista bastante. Que leia mesmo sem as perceber, para me familiarizar com as palavras. E depois, é claro, para tentar ver se consigo extrair o sentido.
6. Estou imortalizado no conjunto de medievistas desta casa. Todos os anos eles tiram uma fotografia de grupo e o Dick de Boer convidou-me para me juntar aos professores da casa – after all, sou um fellow!
7. Os tipos tornam tudo muito simples. Até mete impressão. Aqui só falha quem é burro. Como a minha bicicleta se chama Platero, por vezes, tenho medo que eu seja uma extensão do selim. Espero que não...
Fico por aqui. (Queria ficar por aqui, se calhar…) Espero que não tenham morrido de tédio ao ler estas palavras. Apeteceu-me desabafar convosco.
Um abraço forte deste vosso amigo emigrante,
Flávio M
p.s.1: Vou ver o John Hiatt no Sábado e na Terça o Victor Wooten? Alguém interessado?
p.s.2: (Censura) Emocionei-me muito a ver imagens do novo santuário de Fátima! Como sabem, estou em terra de hereges protestantes! Não imaginam como gostaria de ter uma Nossa Senhora para pendurar no Platero! Ou um terço!
p.s.3: Sabem o que é deprimente? Dar comigo a ver a Praça de Alegria ou o Preço Certo em Euros na RTP Internacional através da internet. Ninguém merece. Qualquer dia, estou com o quarto cheio de CDs da Amália, Tony Carreira e pequenos galos de Barcelos.
p.s.4: (Censura) se a Suécia me atrair, acho que já não vou a Barcelona em Dezembro (embora já tenha os bilhetes comprados). Mando um holandês ladrão de bicicletas qualquer no meu lugar.
p.s.5: Esta semana fiz sopa pela primeira vez na vida! E não é que ficou boa!
sexta-feira, outubro 19, 2007
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2 comentários:
I am going to kill you!
Só daqui a uns meses... até lá tem paciência.
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